sábado, 12 de abril de 2008

EGOÍSMO E ORGULHO


Valdemar Sansão (*)


Não posso ouvir o que dizes porque aquilo que és troveja muito alto”.

O orgulho é sentimento de dignidade pessoal; brio, altivez no bom sentido. Mas o orgulho a que me refiro é o conceito elevado de si próprio; soberba, vaidade, egoísmo, máculas que podem levar o ser humano à penosas desventuras. As ilusões desfeitas obrigam a pessoa soberba e egoísta a palmilhar caminhos difíceis.
O egoísmo, sendo o amor excessivo ao bem próprio, não considera os interesses alheios.
Há pessoas que se julgam superiores às outras sob variados aspectos. Ensoberbados de si mesmas se esquecem das carências alheias. Os princípios universais e maçônicos de fraternidade, de solidariedade e outros não são presentes no íntimo de suas almas insensíveis. É a consideração da prevalência do egoísmo sobre o altruísmo.
A intensidade ou o tamanho do egoísmo e do orgulho não são fáceis de serem avaliados, não há medida para medi-los. Contudo, são tão manifestos em certos casos que se tornam mais acentuados do que todas as demais expressões.
Deparamos com pessoas que não se relacionam com outras porque julgam que estas não estejam à altura de entender os conhecimentos que lograram adquirir. Pensam que podem ser compreendidas apenas por quem usufrui de igual nível intelectual, por isso se isolam, ficam confinadas em seus castelos de ilusões. Tornam-se incapazes de descer de sua cultura arrogante. Tomadas pelo egoísmo, são incapazes de amar a outro, de ver o outro, de saber que ele existe. Para o egoísta, o mundo foi feito só para ele. Eles não são maus; apenas não conseguem ouvir, não conseguem aprender a ser generosos, não conseguem dar, dividir nada, nem seus conhecimentos, seus bens materiais e muito menos amor. Ignoram totalmente que o iletrado e o sábio, as pessoas que habitam moradas humildes e os palácios são todas irmãs e devem desfrutar, mutuamente, do respeito, da atenção, da complacência, do afeto e estima, uma das outras. Desses devemos nos afastar porque só nos trazem desânimo e desalento. Não revelam e nem cultivam humildade. Esquecem que em Maçonaria a participação de todos é indispensável; mesmo não tendo grandes conhecimentos, podemos estudar e progredir. Admiramos, e com razão, os grandes letrados, porém, podemos sempre dar algo de nós em favor da literatura maçônica. Na tolerância e serenidade podemos aprender, ampliar nossos conhecimentos, apesar das críticas de homens conhecidos publicamente que destroem os que começam a desenvolver seus primeiros passos. Isto sim não é maçônico. Eles, intolerantes, intransigentes, apesar de seus conhecimentos culturais, estão longe de compreender o que é Maçonaria e quais são os seus objetivos que estão estampados no amor, na humildade, no perdão...
Muito mais grave, porém, é quando deparamos com os que rejeitam com evasivas o que juraram aos Irmãos: o amor fraternal, que segundo o Ir.’. Antônio do Carmo Ferreira, Presidente da ABIM é o amor que irmana, o amor que aproxima, o amor que une. Ele ainda nos adverte sobre a necessidade de como “Construtores Sociais” derrubarmos os muros que possam se interpor entre nós, construindo pontes que nos aproximem para que trabalhemos unidos partilhando e perdoando, para a grandeza da Maçonaria e a Glória do Grande Arquiteto do Universo que nos fez todos iguais, Irmãos que se devem ajudar mutuamente.
A verdadeira sabedoria consiste em absorvermos integralmente os ensinamentos de nossa Sublime Instituição, praticando seus postulados, ajudando os fracos, os pequenos e oprimidos; combatendo todos os vícios, assim como os privilégios e monopólios, amando o próximo como a si mesmo. Enquanto não observarmos isso apesar de nossa pretensa intelectualidade, não seremos nada mais do que cativos da ignorância. Os sinais que melhor demonstram a nobreza da criatura humana são as manifestações da sua humildade e não suas faculdades intelectuais, seu predomínio, num sistema ou num tipo de cultura.
Em quase todas as atividades da pessoa orgulhosa constata-se a presença de desejos inferiores, a busca de evidência, de ostentação. É a ânsia de sobrepujar os semelhantes. A verdadeira liderança provém do trabalho digno e edificante, do esforço e da luta pelo bem comum, da vontade de progredir em sabedoria para melhor servir seus semelhantes pelo amor ao Grande Arquiteto do Universo.
Os bens mais cobiçados do mundo estão, muitas vezes, envoltos sob camadas subterrâneas. Quase sempre os que afluem à superfície são de pouco valor. Assim também ocorre com as pessoas. As que revelam valores morais elevados não buscam a evidência e o aplauso, pois estão envolvidas pela benção da simplicidade. Um dos postulados e principais objetivos da Maçonaria é o permanente combate a todos os vícios e más tendências.
Mas, o posicionamento pretensioso parece ser o das pessoas que se intitulam intelectualizadas. Elegem-se guias do pensamento de seus Irmãos. Muitas vezes ocorre que essas pretensas lideranças acham-se tão afastadas da verdade que chegam a se embaraçar em seus próprios erros.
Alguns entendem enganosamente que dominam a inteireza de suas doutrinas colocando-se em pedestais. O desdém para com os semelhantes chega a ser afronta ridícula. Não aprendem a partilhar, perdoar. Será que, verdadeiramente, os que regulam a conduta pela autoridade de que escreve, não correrão o risco de se perderem?
Acredito que tudo quanto um homem pode realizar, todos podem fazê-lo. O que escrevemos ou fazemos de bom, deve ser difundido aos olhos de todos, e não penso que este fato possa trair ou diminuir o seu valor.
Alguma coisa está errada no egoísta, no orgulhoso. O que o faria mudar para a vida que valha a pena ser vivida? Com certeza precisaria rir, chorar, dividir, perdoar e também irmanar e abraçar.
A Maçonaria é a luz que ilumina a evolução. Adverte que o egoísmo e o orgulho constituem as principais chagas morais que nos impede que aprendamos a servir, amar e alcançar a perfeição.
Sabemos, no entanto, que em oposição ao orgulho temos a humildade, tão importante ao nosso progresso! A humildade que faz com que o individuo se apague, não procurando demonstrar poder e posição.
Como maçons, nada devemos realizar com a finalidade de causar espanto, conflitos ou envaidecimentos. A humildade não permite melindres. A humildade nos conduz ao perdão – o verdadeiro perdão – que é a mais lídima demonstração de amor. Quem perdoa não se preocupa com atitudes de reconhecimento de quem o recebe. O perdão faz esquecer o mal e volta àquele que age dessa forma para o bem, cooperando com o próximo, jubilando-se com seu sucesso e, desse modo, capacitando-se a subir mais um degrau na Escada de Jacó.
Não podemos ignorar o exemplo das árvores: “As que mais crescem são as que sempre juntas se protegem, entrelaçando seus galhos, como se fossem mãos dadas, e desta união vem a resistência quase invencível”.
Lutemos, pois, contra o orgulho, a inveja, o egoísmo e todos os vícios, procurando cultivar a humildade, comportamentos dignos daquele que absorveu os postulados proclamados pela nossa Sublime Instituição.

(*) Valdemar Sansão
E-mail: vsansao@uol.com.br
Fone: (011) 3857-3402

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